O vinho é de longe uma das bebidas mais apreciadas e populares do mundo, tanto pelo seu sabor quanto pelos seus efeitos. Afinal, como diria o escritor Eduardo Galeno, “Somos todos mortais até o primeiro beijo e a segunda taça de vinho”. Vamos conhecer agora um pouquinho da história dessa bebida e ver como anda o seu consumo, principalmente aqui em terras brasileiras.
Índice
Uma (bem breve) história do vinho
Falar sobre a história do vinho é quase como falar sobre a história da humanidade. Na verdade, ninguém sabe exatamente como as coisas começaram, e cada cultura aponta uma origem diferente. Do ponto de vista histórico, temos que o consumo de vinho é mais antigo do que a própria escrita. Provavelmente, alguém teve a bizarra ideia de beber suco de uva “estragado” e acabou gostando do efeito – totalmente compreensível.
Independentemente de quem resolveu fazer essa experiência inusitada, alguns dos nossos registros mais antigos vêm da Geórgia (mais ou menos ao norte da Grécia) e da Turquia e datam de mais de 5000 a.C. Mas as coisas começaram a tomar algumas proporções maiores no Egito antigo. Existem documentações sobre a produção do vinho egípcio por volta de 3000 A.C. Cerca de mil anos depois, os vinhos do Egito chegariam à Grécia.
Bebida dos deuses
Já na Grécia o vinho foi tratado como uma verdadeira bebida dos deuses. Estava presente em todas as reuniões e até mesmo ditava o ritmo dos debates entre sábios, filósofos e poetas. Era visto como uma bebida capaz de trazer a verdade, a alegria… E causar problemas. Os gregos estavam conscientes do estrago que uma pessoa bêbada pode fazer – e que estrago!
Dionísio, a famosa divindade a qual se atribuía a bebida, era responsável por bênçãos e destruições. O mesmo deus era considerado originador de diversos tipos de arte – sendo o teatro a principal – mas também da loucura. Daí já dá para entender muita coisa, não é? Essa tradição continuou com os cultos a Baco, o deus do vinho em Roma.
Bebida de Deus
Com a cristianização do Império Romano, o vinho ganhou um novo significado e função social. A bebida foi promovida de originadora da euforia a uma das peças centrais das celebrações religiosas, papel que desempenha até o dia de hoje. Isso consolidou de uma vez o consumo de vinhos por toda a Europa e, após as grandes navegações, pelo resto do mundo.

E o Brasil?
As primeiras tentativas de se estabelecer vinícolas em terras brasileiras ocorreram logo no início do processo de colonização – mais precisamente em 1532 – por iniciativa de um fidalgo da cidade do Porto chamado de Brás Cubas (não confundir com o personagem de Machado de Assis). Desde então a produção foi crescendo aos poucos até ser totalmente proibida por ordens da rainha Dona Maria I de Portugal, que impediu todo o tipo de manufatura na então colônia em 1785.
Esse foi um duro golpe na indústria vitivinícola nacional, que foi retomada sob circunstâncias inusitadas: a invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal que ocasionou a fuga da família real para o Brasil. Claro que a família real não tinha a menor intenção de viver privada de uma das suas iguarias favoritas, sem contar que muitas das atividades do reino – inclusive a manufatura – foram transferidas para o Brasil.
Já no reinado de Dom Pedro I foi incentivado o fluxo migratório para a região sul do país em vista de reafirmar a posse brasileira sobre aquele território. As primeiras colônias formadas foram as alemãs, que iniciaram algumas atividades industriais. Porém, foi a partir do Dom Pedro II que imigrantes italianos – juntamente com seus hábitos de produção e consumo de vinhos – se fixaram e iniciaram essa cultura na Serra Gaúcha.
No entanto, apenas a partir de 1920 essa produção foi aos poucos deixando o seu caráter familiar e se tornando um negócio profissional, com gestão e parâmetros de qualidade. Atualmente, temos a ascensão de produção vinícola em outras regiões do país e o desafio nacional de aumentar o consumo. Mesmo depois de todos esses anos de história, o Brasil ainda tem consumo per capita muito baixo – cerca de 2 litros anuais – e tem muito o que crescer.
Produção e consumo no mundo
Uma vez que o velho continente já possui um longo histórico de produção e consumo da bebida amada, não é nem um pouco surpreendente que ele liderem os dois quesitos. França, Itália e Espanha são os principais produtores, seguidas dos Estados Unidos
Apesar de não serem tão tradicionais, os vinhos da Califórnia já conquistaram algum espaço e não é surpreendente que estejam aí. Alemanha e Portugal também figuram no Top 10, representando a Europa, mas são superadas pela Argentina e pela Austrália
- França
- Itália
- Espanha
- Estados Unidos
- Argentina
- Austrália
- Alemanha
- África do Sul
- Chile
- Portugal
Já em termos de consumo, nossos amigos portugueses não brincam em serviço: 62 litros per capita anuais. São seguidos por França, Itália e Suíça. Nosso Brasil figura a 23ª posição com apenas 2 litros por ano (os produtores nacionais têm muito trabalho pela frente). Confira

Produção e consumo no Brasil
Atualmente, o Brasil possui cinco regiões com alta produção vinícola: Rio Grande do Sul (com destaque para a Serra Gaúcha), Santa Catarina, Sul de Minas Gerais, São Roque e o Vale do São Francisco. Esse último pode ser surpreendente para algumas pessoas, mas essa localidade situada entre a Bahia e Pernambuco já é responsável por 15% do mercado nacional
Quanto ao consumo, apesar de não produzir a bebida o estado de São Paulo tem a fatia de 32,1%, seguido pelo Rio de Janeiro com 17,2% e Rio Grande do Sul com 12,5%. Apesar disso, os gaúchos fazem jus às suas raízes: 4,46 litros per capita anuais, quase o dobro dos paulistas Os rótulos nacionais dominam o mercado brasileiro, representando 69% das compras.
Essa estatística é puxada pelos estados do Rio Grande do Sul, Bahia e Paraná, os únicos que, avaliados individualmente, consomem mais bebida nacional do que importada, na proporção de 3 litros para 1.
A respeito dos tipos de vinhos preferidos pelos brasileiros, os chamados vinhos de mesa ocupam o topo da lista. Em segundo lugar estão os vinhos finos e, por último, os espumantes. Em restaurantes e bares, as opções solicitadas são diferentes das consumidas em casa. Veja o ranking dos mais pedidas
- Château Jamin 2010 (tinto)
- Château Beaumont Les Pierrières 2009 (tinto)
- Leukadios Rosé – Minervois 2011 (rosé)
- Leukadios tinto – Minervois 2013 (tinto)
- Plaisir de Siaurac 2011 (tinto)
- Domaine de L’Herré – Gros Manseng 2011 (branco doce)
- Mont’Arquato Barbera – Colli Piacentini DOC 2011 (tinto)
- Mont’Arquato – Cabernet-Sauvignon Barbera Blend – IGT 2010 (tinto)
- Mont’Arquato – Duca Di Ferro Gutturnio Risierva – Colli Piacentini DOC 2007 (tinto)
- Vignacci Rizziero – Sangiovese Montecucco DOC 2007 (tinto)
O que está por trás do baixo consumo de vinhos no Brasil?
É difícil encontrar uma única resposta para isso já que existem vários fatores. Em um primeiro momento podemos pensar em questões econômicas, já que o poder aquisitivo da população de uma forma geral é baixo e preço da bebida é consideravelmente maior do que de outras opções mais populares como a cerveja, por exemplo. Além disso temos os fatores culturais, já que o vinho ainda é visto como uma bebida para elites, difícil de entender e cheia de rituais e etiquetas

Curiosidades de uma bebida divina
- Mesmo com o alto consumo de gordura saturada, tabagismo e sedentarismo, os franceses não têm mais doenças cardiovasculares que o restante da população mundial. A preservação da saúde foi atribuída ao alto consumo de vinho tinto e o fato ficou conhecido como o “Paradoxo Francês”
- A marca de vinho mais vendida do mundo é a americana Barefoot, muito consumida no país
- 55% dos vinhedos correspondem às variedades tintas, sendo que a uva mais plantada do mundo é a Cabernet Sauvignon
- Um vinho branco brasileiro de apenas R$38,00 ganhou em 2020 a medalha de ouro no International Awards Virtus, em Lisboa
- Durante o processo de clarificação de vinhos brancos e rosés são utilizados alguns aditivos de origem animal, o que fez com que surgisse a nova categoria de vinhos veganos, que não fazem uso dessas substâncias


